Ao longo da minha trajetória profissional, percorri diferentes setores, contextos e estruturas organizacionais — da indústria naval à fabricação de pás eólicas, da engenharia consultiva à excelência operacional em serviços. Cada experiência ampliou minha visão sobre o que realmente significa liderar com alta performance. Mais do que técnicas e frameworks, descobri que liderar bem é um exercício profundo de escuta, coragem, consistência e propósito.
Começo desafiador: transição e reinvenção
Minha jornada com liderança de alta performance ganhou força quando fui desafiado a atuar fora do meu setor de origem. Saí de uma longa experiência na indústria naval e entrei no universo da fabricação de pás eólicas. Ali, enfrentava não só a necessidade de entregar resultados expressivos, mas também o desconhecimento técnico inicial do novo produto e processo.
Essa transição foi o primeiro grande laboratório de liderança: tive que construir credibilidade do zero, me apoiar fortemente no time, fazer perguntas certas e acelerar meu aprendizado com humildade e senso de urgência. Apostei na formação da liderança média por meio de treinamentos Green Belt e Yellow Belt, criando uma base sólida de cultura de melhoria contínua.
Excelência operacional com pessoas no centro
Na sequência, assumi a liderança de uma das maiores plantas industriais do grupo, com mais de 1.200 colaboradores sob minha gestão direta. Estruturei o trabalho com três supervisores, 21 líderes e um staff técnico multidisciplinar. Esse time passou a ser a base da transformação operacional e cultural da unidade.
Nossa estrutura de gestão da rotina foi redesenhada com foco em alinhamento diário, definição de indicadores claros e resolução estruturada de problemas. Criamos constância de propósito e uma trilha de desenvolvimento da liderança, sustentada em três pilares: capacitação, acompanhamento e reconhecimento.
Descobri, na prática, que a verdadeira liderança de alta performance nasce da coerência entre o discurso e a prática. Do exemplo silencioso. Da persistência mesmo diante da resistência. De saber o momento certo de desafiar e de apoiar.
Projetos de impacto e amadurecimento como Black Belt
Durante minha certificação como Black Belt, tive a oportunidade de conduzir dois projetos estruturantes. O primeiro envolveu o redesenho completo do processo de preparação de superfície, substituindo o hidrojateamento por um sistema de rateamento abrasivo. Idealizamos, projetamos e construímos a maior cabine do Brasil, com controle ambiental, sensores inteligentes e aspiração automatizada de resíduos.
O desenvolvimento foi guiado pelo Design for Lean Six Sigma, validado com benchmarking nacional e internacional e suportado por ferramentas robustas como o FMEA. A coleta de dados foi planejada com rigor, a escuta ativa dos operadores moldou soluções práticas e a integração entre áreas se tornou um ativo estratégico.
O segundo projeto envolveu a revisão completa do consumo de tinta, passando por mapeamento de perdas, padronização de práticas e ajustes de engenharia. Ambos os projetos foram extremamente desafiadores — não apenas tecnicamente, mas como laboratório vivo de liderança: gerenciar conflitos, alinhar fornecedores, acompanhar obra em paralelo e tomar decisões sob pressão exigiram habilidade, resiliência e visão sistêmica.
Direção em engenharia e serviços: aprendizados em novos oceanos
Minha experiência mais recente foi como diretor de operações de engenharia e excelência operacional em uma organização tradicional de serviços técnicos e laboratoriais. Foi ali que vivi minha primeira imersão no Lean aplicado ao universo dos serviços, especialmente por meio da abordagem do Lean Construction.
Liderei turmas de formação Lean (Yellow Belt, FMEA, ferramentas diversas), envolvendo mais de 250 colaboradores em ações estruturadas de capacitação. Desenvolvemos projetos de inovação com uso de sensores para monitoramento da temperatura do concreto e predição da resistência à compressão — um avanço expressivo no uso da tecnologia como aliada da tomada de decisão em campo.
O maior aprendizado nesse ciclo foi o de navegar em oceanos novos. Em ambientes onde o Lean ainda não era conhecido, fui provocado a adaptar conceitos, traduzir linguagem, respeitar maturidades distintas e construir pontes entre estratégia e operação. Descobri que problemas, processos e pessoas existem em todas as empresas — e que a liderança verdadeira se manifesta na forma como unificamos tudo isso em prol de um propósito maior.
Lições essenciais para liderar com alta performance
Com tudo que vivi, compartilho abaixo alguns dos aprendizados mais valiosos sobre liderança de alta performance:
- Escuta ativa é a base da confiança — ouvir antes de agir transforma relacionamentos e decisões.
- Alta performance exige clareza e disciplina — definir metas, indicadores, rotinas e padrões não é burocracia, é alavanca.
- Formar líderes forma culturas — capacitar, desafiar e apoiar a liderança média é um investimento com retorno exponencial.
- Inovar com método é mais seguro — projetos bem conduzidos exigem rigor técnico, gestão de riscos e validação em campo.
- Humildade e adaptação são forças silenciosas — especialmente ao liderar em áreas novas, onde o conhecimento técnico ainda está sendo construído.
- Comunicar com objetividade gera apoio executivo — simplificar a mensagem, mostrar impacto e manter visibilidade estratégica sustentam o patrocínio de alto nível.
Conclusão
Liderança de alta performance não é um destino, mas um caminho. Um caminho que exige desenvolvimento contínuo, prática deliberada e coragem para aprender todos os dias. O que move esse processo não é apenas a busca por resultados, mas o desejo genuíno de formar equipes mais fortes, processos mais robustos e organizações mais inteligentes.
E, acima de tudo, líderes melhores — mais preparados, mais humanos e mais comprometidos com o legado que deixam.